Apesar de sua importância histórica, o aniversário de criação do estado de Mato Grosso, celebrado em 9 de maio, ainda é pouco lembrado pela população. A data só foi oficializada em 2003, mais de 250 anos após a fundação da Capitania, por meio da lei estadual nº 8.007, de autoria do então deputado João Malheiros.

Segundo o historiador e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Suelme Fernandes, essa demora está diretamente ligada a disputas políticas e simbólicas entre as elites regionais, especialmente envolvendo a capital, Cuiabá. “Cuiabá já era uma cidade consolidada quando foi preterida como capital da nova Capitania, o que gerou insatisfação entre suas lideranças”, explica.

A Capitania de Mato Grosso foi criada pela Coroa Portuguesa em 9 de maio de 1748, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade, região próxima ao Rio Guaporé. A decisão visava reforçar o domínio português sobre a área, então localizada em território oficialmente espanhol, conforme o Tratado de Tordesilhas. À época, Cuiabá ainda pertencia à Capitania de São Paulo.

O território foi desbravado por bandeirantes como Pascoal Moreira Cabral e Fernão Dias Paes Leme, que chegaram à região de Cuiabá em 1719, atraídos pela descoberta de ouro. Anos depois, em busca de novas jazidas, os portugueses avançaram rumo ao oeste, fundando Vila Bela como capital estratégica para consolidar a presença portuguesa na fronteira.

A mudança da capital provocou resistência em Cuiabá, que já se destacava como polo urbano e econômico. Essa rivalidade, segundo Suelme, influenciou na escolha simbólica de datas comemorativas. “As elites cuiabanas preferiam valorizar o 8 de abril, data da chegada dos bandeirantes à região, como forma de reforçar o protagonismo local”, afirma.

A oficialização do 9 de maio como aniversário de Mato Grosso, proposta por um deputado cuiabano, representou uma tentativa de corrigir o apagamento histórico da fundação da Capitania e reconhecer a importância de Vila Bela da Santíssima Trindade como primeira capital do estado.