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Sociólogo aponta os 3 pilares do Comando Vermelho em MT
A facção se estrutura no tráfico de drogas para gerar lucro
Doutor em sociologia, o professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos aponta que, dentre a complexa teia criminosa do Comando Vermelho em Mato Grosso, a facção utiliza 3 pilares que garantem a majoritariedade no estado.
Em atuação há algumas décadas em Mato Grosso, a facção se estrutura no tráfico de drogas para gerar lucro, no domínio de espaço para garantir território e, também, nos castigos físicos, e, às vezes, letais, como força coercitiva.
Ao portal GD, o professor apontou que parte do poderio da facção se constrói por meio de seu envolvimento direto com a população. Para garantir segurança em zonas perigosas, muitas vezes a comunidade civil estreita a relação com faccionados.
"O Comando Vermelho atua, principalmente, na comercialização de drogas, pasta base, maconha e cocaína. E, por outro lado, no domínio de território oferecendo proteção da população daquela região, mas, principalmente, para comerciantes, empresários, que pagam a mensalidade para eles para que a segurança seja garantida naquele estabelecimento", afirma.
"Outra é a execução que eles realizam de pessoas que estão devendo na boca. Isso é feito dentro e fora do presídio. Quem desobedece o estatuto dentro do presídio vai ser punido e quem está querendo fazer alguma atividade fora do controle será punido ou justiçado com os castigos", acrescenta o professor.
Outro ponto que garante o desempenho da facção em Mato Grosso está relacionado ao fato da cadeia hierárquica se atualizar a cada nova baixa. Isto é, mesmo com a prisão dos "chefões do crime", o sistema se mantém.
"O crime organizado, como o próprio nome diz, está estruturado de uma tal forma que se você prende uma pessoa, prende um grupo, ele não desaparece. Tem uma cadeia de liderança, uma cadeia de comando. Se você prender o principal chefe dessa cadeia, 3, 4 abaixo assumem a liderança e o crime vai continuar", aponta.
Ao portal, o professor também apontou alguns dos possíveis motivos pelo qual outras facções não se desenvolveram tão amplamente em Mato Grosso, como é o caso do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Mesmo presente em 23 estados brasileiros, o PCC não se destacou em Mato Grosso. Para o doutor em sociologia, isso se dá por conta de escolhas feitas pela facção sobre a rota do tráfico.
Com o avanço do PCC no início dos anos 2000, lideranças da facção teriam optado pela escolha de Mato Grosso do Sul como ponto do tráfico de drogas, sobretudo a maconha. A escolha, segundo o professor, foi baseada em questões econômicas.
"Eles deixaram essa rota meio liberada, livre, porque era mais caro passar com drogas por aqui e a principal fonte de comércio do PCC era maconha. Então, não compensava vir buscar aqui porque o risco era maior eles virem buscar aqui. É lá na divisa de Mato Grosso do Sul que era o domínio deles. As pessoas que eram presas nessa rota ficavam presas em Campo Grande", explica.