Tarifaço de Trump reacende alerta e abre janela estratégica para o agro brasileiro
O novo tarifaço anunciado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com alíquotas que somam 145% sobre produtos chineses, movimentou o mercado internacional e reacendeu discussões sobre oportunidades para o agronegócio brasileiro. A guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo reposiciona o Brasil como fornecedor estratégico, principalmente no segmento da soja. No entanto, especialistas alertam: para transformar esse cenário em resultados concretos, o país precisa garantir condições reais de competitividade para seus produtores, especialmente os pequenos e médios.
Com a taxa Selic ainda elevada, atualmente em 14,25%, o crédito agrícola segue caro e inacessível para muitos. Para o presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Costa Beber, a próxima edição do Plano Agrícola e Pecuário 2025/2026 precisa vir acompanhada de taxas de juros atrativas e instrumentos eficazes de apoio à produção. “Temos potencial para crescer e atender tanto a China quanto a Europa, mas precisamos de viabilidade econômica. Sem isso, corremos o risco de perder uma janela estratégica no comércio global”, afirmou.
A experiência de anos anteriores mostra que o Brasil soube aproveitar as brechas geradas por disputas comerciais internacionais. Agora, com a possibilidade de escalada das tarifas entre EUA e China, e a indefinição em acordos com a União Europeia, o país volta ao radar global. Contudo, gargalos estruturais como logística precária, falta de armazenagem e custo elevado dos insumos — agravados pela alta do dólar — podem limitar esse avanço. Além disso, recentes declarações do governo federal sobre reduzir tarifas de importação e taxar exportações preocupam o setor.
Internamente, o cenário ainda é de incerteza. A suspensão das linhas de crédito do Plano Safra 2024/2025 gerou forte impacto no campo, minando a confiança dos produtores. Com isso, cresce a pressão para que o novo Plano Safra, previsto para junho, atenda às demandas reais do setor, incluindo seguro agrícola robusto e linhas de financiamento voltadas à sustentabilidade, como o plantio direto e equipamentos de combate a incêndios.
Diante das tensões geopolíticas e dos reflexos nos mercados globais, o Brasil se encontra diante de uma grande oportunidade. Mas para aproveitá-la, precisará fazer o dever de casa: garantir crédito acessível, investir em infraestrutura e reconhecer o papel dos produtores na segurança alimentar mundial. Como destaca Lucas Beber, “é hora de mostrar que o Brasil está preparado para liderar, mas isso exige compromisso político e visão estratégica.”