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Dinheiro de pedágios compra picapes furtadas, diz Polícia
Operação da Roubos e Furtos descobriu caminhonetes furtadas em aldeia da etnia enawenê-nawê, em Juína
A Polícia Civil investiga uma possível ligação de índios da etnia enawenê-nawê, em Juína (735 km a Noroeste de Cuiabá), com quadrilha especializada no furto de picapes em Cuiabá.
A informação é de que os índios utilizariam o dinheiro arrecadado em pedágios, realizados em rodovias da região, para comprar caminhonetes furtadas na Capital.
Durante um desses pedágios, realizado na BR-174, em 9 de dezembro, um grupo de indígenas capturou dois jovens que "furaram" o bloqueio na rodovia federal .
Dias depois, integrantes da comunidade entregaram o corpo dos rapazes mortos à Polícia Federal.
Na semana passada, a Polícia Civil encontrou, com os índios, três caminhonetes que foram furtadas em uma concessionária da capital. Os veículos eram do modelo Toyota/Hillux SRV, cabine dupla, ano 2015, zero quilômetro,
A descoberta foi feita durante a Operação “Via Láctea”, deflagrada pela Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos Automotores (Derrfva).
Cinco homens foram presos na quarta-feira (16), por suspeita de integrarem uma quadrilha especializada em furtos de caminhonetes zero quilômetro de dentro de concessionárias.
Os veículos dos indígenas teriam sido adquiridos através do grupo preso pela Polícia Civil.
A investigação da Derrfva apontou que os “corretores” de veículos, que receberam as caminhonetes após o furto, realizaram emplacamento e utilizaram uma documentação ilegal.
Logo em seguida, os automóveis foram vendidos para os índios da Comunidade Enawenê, que, conforme a Polícia Civil, sabiam da origem ilícita das caminhonetes. Eles realizavam os pagamentos em dinheiro.
O delegado Marcelo Martins Torhacs, que chefiou a operação, disse que todo o dinheiro utilizado para a compra dos veículos era conseguido através dos pedágios realizados pela comunidade indígena.
“Esses valores para comprar os carros furtados, segundo informações, foram conseguidos através dos pedágios”, disse.
Em parcela única e em dinheiro, o pagamento realizado pelos índios era de R$ 17 mil, em um automóvel que custava cerca de R$ 150 mil na concessionária.
Torhacs contou que os índios sabiam da ilegalidade da prática e criavam alternativas para desviar as caminhonetes de possíveis averiguações policiais.
“Nas investigações, constatamos que os índios demonstravam ter conhecimento que esta era uma prática ilegal, porque se tratava de produtos de crime. Eles até se organizavam para desviar da Polícia, não estavam com boa-fé”, disse.
Esta não teria sido a primeira vez que a etnia de Juína se apropriou de veículos furtados.
Na segunda-feira (14), conforme a Polícia Civil, quatro integrantes da tribo enawenê-nawê foram presos por estarem dirigindo outra caminhonete roubada, no município de Vilhena, no vizinho Estado de Rondônia.
Eles estavam com uma S-10, de cor branca, sem a placa dianteira, fato que teria motivado a abordagem policial.
Punições
A Polícia Civil explicou que os indígenas que estavam com os três veículos furtados poderão responder por receptação, se as investigações comprovarem que eles são “aculturados”, termo utilizado para definir que eles entendem as regras básicas do convívio em sociedade.
“Por serem aculturados, eles irão responder pelo crime como qualquer outra pessoa”, afirmou o delegado Tohracs.
Além das três caminhonetes encontradas na aldeia, a investigação apontou que é possível que haja outros veículos produtos de crimes no interior da comunidade indígena.
A Polícia Civil acredita que um quarto veículo, furtado no mesmo período em que os três automóveis que foram localizados com os índios, também esteja em posse dos integrantes da tribo.
Porém, por se tratar de terras indígenas, somente a Polícia Federal, que foi comunicada sobre o fato, é autorizada a realizar as investigações no local, após autorização da Justiça Federal.
Torhacs declarou que os índios enawenê, de Juína, figuram como fortes receptadores de automóveis.
“Eles ocultam o veículo comprado ilegalmente e os guardam nas terras indígenas, que são protegidas pela Lei”, disse.
“Eles acabam fomentando o mercado de furto e roubo de caminhonetes em todo o Estado, pois, para os ladrões, eles são ótimos receptadores”, completou.
Assassinatos na aldeia
Os jovens Marciano Cardoso Mendes, de 27 anos, e Genes Moreira dos Santos, de 24 anos, estavam desaparecidos desde a última quarta-feira (9), após supostamente "furarem" um pedágio controlado pelos índios enawenê-nawê, na BR-174, no sentido Juína/Vilhena-RO.
Os corpos dos dois foram entregues no sábado (12) pelos indígenas, depois de horas de negociação intermediada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e policiais federais.
A Polícia Federal solicitou a prisão de três índios da etnia enawenê-nawê. Eles estariam ligados ao assassinato dos dois jovens.
As solicitações atendem a uma medida cautelar solicitada pelo delegado federal Hércules Sodré, responsável pelo caso.
Os pedidos de prisões preventivas foram solicitados após investigações da PF, que informou ter colhido depoimentos de pessoas envolvidas no caso, além de ter investigado a região onde ocorreu o crime.
O inquérito da PF está sendo realizado sob sigilo, após os pedidos de prisão.